A imagem
Nos começos foi bastante atingida pela necessidade que tem todo romeiro de tocar o objeto de sua devoção e, se possível, levar ao menos uma parcela do mesmo. É como se aquela parte carregasse em si a força divina que está no todo. Por isso foi depois protegida por uma caixa de madeira em forma de cruz, com vidro na parte da frente. Mas a cruz conserva ainda seu tamanho original.
A veneração que o povo manifesta à imagem de “Divina Santa Cruz” é simplesmente comovente. Percebe-se em todas as suas atitudes, no modo de falar nela, ao entrar no Santuário, ao beijá-la depois das celebrações. É de não esquecer a velhinha tocando na cruz e passando depois a mão sobre os olhos cegos, na esperança de recobrar a vista. E quando por vezes a cruz é levada a outras comunidades o trabalho para em todo o percurso, quando os moradores da margem da estrada querem ao menos vê-la de mais perto e tocar nela, na passagem.
A piedade popular sofreu sérias distorções através dos tempos, na veneração desta imagem. Para o povo simples, a Santa Cruz dos Milagres, a do Olho D’Água dos Milagres, não é propriamente a Cruz de Nosso Senhor, embora ninguém o negue assim explicitamente. É antes uma “pessoa”, como a pessoa dos santos, com muito mais força, aliás. Em torno dela gira um mundo todo de conceitos e atitudes.
O povo reza à Santa Cruz, manda cartas pedindo graças e conselhos, dá os filhos como afilhados, tratando-a depois como madrinha ou comadre. E nesta intimidade chega a conversar com ela contando suas dificuldades e dando recado de pessoas amigas que não puderam vir.
Houve tempo em que se lhe ofereciam roupas para vestir-se e joias para enfeitar-se. E tudo em torno partilhava desta “santidade”. Até se espelhava milho ao redor do cruzeiro da frente da Igreja para o “galo da Santa”, esculpido em madeira nos braços daquela cruz, como aliás outros objetos da paixão que havia ali, como lança, pregos e martelos.