Devoção e Exercício da Invenção
Depois da morte de Jesus, os primeiros cristãos se dispersaram, tangidos pela perseguição. E quando conseguiram reorganizar-se, em Jerusalém, ninguém mais sabia onde se encontrava a Cruz de madeira, em que Ele morreu.
Passaram-se assim mais de 300 anos. Já havia cristãos pelo mundo todo. E havia o desejo imenso de conhecer de perto o instrumento material da morte de Nosso Senhor. A mãe do Imperador Constantino, Santa Helena, com os recursos que tinha, conseguiu localizar a verdadeira Cruz, identificada por milagres que aconteceram no dia da sua “invenção”, quer dizer do seu encontro.
Os cristãos ainda mais intensificaram sua espiritualidade e devoção à Cruz de Nosso Senhor. A Igreja orientava e estimulava, mas surgiram no meio do povo muitas outras orações e celebrações voltadas para a Paixão, tendo a Cruz como centro. Assim foi que surgiu também, não se sabe quando, mas certamente muitos anos atrás, a Devoção e o Exercício da Invenção da Santa Cruz.
Ritualizada em gestos penitenciais, é esta a oração:
“Nos campos de Caifás, o inimigo da Cruz encontrarás. Arreda e afasta-te, Satanás, tu comigo não tens conta, deixa minha alma passar em paz. Porque no dia da Invenção da Santa Cruz, cem vezes me ajoelhei, cem vezes o chão beijei, cem vezes me levantei, cem vezes me persignei (pelo sinal da Santa Cruz, livre-nos Deus Nosso Senhor, de nossos inimigos), cem Ave Marias rezei, cem na véspera e cem no dia. Me encomendo a Deus e à Virgem Maria. Cem vezes do Cão arreneguei. Arrenego de ti, Satanás. Ave Maria...”
Embora de origem popular, esta devoção e este exercício neguem bem de perto a linha de espiritualidade do povo cristão, sobretudo entre nós, no século passado. Foi o tempo em que se valorizava mais o sentido da penitência corporal, buscando na Paixão de N. Senhor o seu paradigma. Era o sentido de expiação dos pecados pelo sofrimento, N. Senhor “pagando” pelos nossos pecados, tirando o pecado do mundo. E isto em luta aberta contra o Demônio que escravizava o mundo justamente por este mesmo pecado.
Era certamente a ressonância da pregação missionária do tempo, voltada sobretudo para a mortificação dos sentidos, e um viva consciência da ação do Demônio, pela tentação. E que ainda lembra a própria fórmula do Batismo, quando expressamente se faz renuncia ao Demônio e às suas seduções.